Protagonismo &
Precarização
O professor Salomão Hage ministra palestra de abertura do I Encontro do SOME Pará/Amapá |
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palestra “Os desafios do Ensino Modular
frente às Demandas por Educação dos Sujeitos do Campo” ministrada pelo doutor Salomão Antônio
Muffarej Hage (GEPERUAZ/ UFPA), foi
a primeira atividade laboral do I Encontro do SOME Pará/Amapá.
Através dela, o professor situcionalizou
a Educação do Campo considerando duas vertentes: protagonismo e precarização
(negação e violação de direitos).
Primeiramente Salomão Hage faz uma abordagem
histórica da luta dos movimentos sociais, a partir da “Marcha das Margaridas”,
que reuniu 100 mil mulheres trabalhadoras rurais de todo o país em Brasília, em
agosto de 2011. Elas marcharam pelo reconhecimento das mulheres no
desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade.
Ele falou também sobre o 18o Grito
da Terra, que foi realizado no dia 30 de maio de 2012, em Brasília, quando os
trabalhadores do campo sob a coordenação da CONTAG, que reúne 20 milhões de
trabalhadores rurais, 27 Federações de trabalhadores na agricultura e mais de 4
mil sindicatos de trabalhadores rurais, manifestaram sua postura a favor de um
desenvolvimento rural sustentável e solidário. Na pauta do movimento questões
como: políticas agrícolas, reforma agrária, questões salariais e políticas
sociais.
Salomão discorreu também
sobre os 10 mil trabalhadores, povos do campo, das águas e da floresta, que
marcharam em Brasília, no dia 22 de agosto de 2012, por terra, território e dignidade
e pela Educação do Campo, Indígena e Quilombola. O movimento pede a efetivação
do Programa Nacional de Educação no Campo – Pronacampo, que foi lançado pela presidenta
Dilma Rousseff em 20 de Março de 2012.
O Pronacampo prevê apoio técnico
e financeiro aos Estados, Municípios e Distrito Federal, para a implementação
da política de educação do campo, conforme Decreto n° 7.352/2010 e ações
voltadas para o fortalecimento e a melhoria do ensino nas redes existentes e
ampliação de acesso a educação para as populações do campo.
O professor doutor Salomão
Hage, usou de estatísticas para mostrar as desigualdades nas matrículas no
campo para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os dados dizem que, para cada
seis vagas nos anos finais do Ensino Fundamental existe apenas uma vaga no
Ensino Médio. No estado do Pará, grande parte dos jovens do campo estuda no
Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME).
Sobre o nome da Proposta – Para Salomão Hage, modular é uma palavra que implica em ações estanques -
se esgota na duração dos módulos e não estimula a interdisciplinaridade, a
interação entre os docentes, a transversalidade dos conhecimentos. Além disso,
ele diz que modular dá a ideia de que o curso não é regular, pela rotatividade
dos docentes e pela organização dos módulos, porém, os estudantes têm aulas
regularmente, o curso é contínuo e, portanto, regular.
O nome modular também não
estimula a integração com a Educação Profissional e nem reflete as boas
práticas que estudantes e docentes realizam, mesmo nas condições adversas que
enfrentam em determinadas localidades.
Ele advoga também que é preciso
ouvir os sujeitos: professores, estudantes, gestores, pais e integrantes das
comunidades onde as turmas funcionam, para identificar as maneiras como que
eles se reconhecem, considerando seu pertencimento às diversas
territorialidades existentes na Amazônia Paraense.
Concluindo, Salomão orienta
que o nome da proposta implica na construção coletiva de sua identidade, pois
as populações do campo desenvolvem suas atividades produtivas de forma
coletivizada, envolvendo todos os membros da família, seja na agricultura, na
pesca, no extrativismo, etc, sendo esse, portanto um aspecto fundamental de sua
constituição identitária, que traz implicações diretas para o processo de escolarização.
Visitação – Para o palestrante a visita e o acompanhamento às turmas são
fundamentais, pois as escolas do campo no Pará encontram-se em comunidades,
vilas, distritos ou polos localizados a uma certa distância das sedes dos
municípios e as vias de acesso e os meios de transporte são muito precários. Além
disso o número restrito de profissionais e de viaturas da SEMEC dificultam o
acompanhamento às escolas, às turmas e aos docentes.
Sem a visita in lócus
e o acompanhamento do processo educativo que se desenvolve nas turmas, se torna
difícil garantir a efetividade da proposta.
Formação – Outro ponto abordado pelo professor Salomão Hage foi sobre a formação contínua
e valorização dos educadores, gestores e servidores, para afirmar a proposta
pedagógica e planejar as atividades curriculares e de inovação a serem
implementadas no campo. De acordo com estatísticas do INEP/2011, o campo tem um
total de 342.845 professores. Destes 160.317 não tem educação superior. Com ensino
médio são 156.190 e com o Ensino Fundamental são 4.127.
Operacionalidade – Com relação a referências operacionais para o funcionamento das turmas,
Salomão Hage, diz que os estudantes e professores precisam sentir orgulho de
estudar e trabalhar no meio rural e para isso se faz necessário atender a um
conjunto de requisitos básicos que configure um ensino de qualidade, com
ambiente pedagógico acolhedor, estimulante, prazeroso e propiciador da
aprendizagem. Para isso pede a melhoria da
infraestrutura das turmas, na lotação dos docentes, no deslocamento e
acomodação dos estudantes e professores, na alimentação e recursos pedagógicos.
Currículo – Salomão
também enfatiza uma reorientação da proposta pedagógica e curricular, que fortaleça
a relação dialógica entre os saberes da tradição e os conhecimentos científicos
e tecnológicos existentes. A proposta deve ser construída coletivamente, com a
participação dos diversos sujeitos que o integram, estimulando o protagonismo,
o empoderamento e a emancipação dos mesmos.
Além disso,
a proposta deve afirmar a interculturalidade que constitui os seus integrantes,
a fim de fortalecer o pertencimento dos mesmos a sua comunidade local e à
Amazônia paraense.
Para
encerrar ele diz que a nova proposta pedagógica e curricular deve incorporar os
avanços acumulados das experiências implementadas pelos movimentos sociais,
organizações não governamentais ou poder público em suas várias esferas, como:
Pedagogia da Alternância, EJA integrado à educação Profissional (currículo
integrado), ciclos de formação, que têm confrontado com a seriação e sua
hegemonia em termos de organização de ensino.
Um comentário:
Parabéns pela belíssima reportagem meu caro Eládio, é muito bom ter um profissional do seu nível militando na educação desse país!!!
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