quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

SOME AMAPÁ - OPINIÃO


Aos Mestres do Amapá

*Jacyguara Costa Pinto

N
o dia 28 de Abril do ano em curso comemorou-se o dia Internacional da Educação. Ela é pauta das discussões  mundiais, em diferentes lugares, é o mundo globalizado. No Amapá não é diferente, muda-se o governo, muda-se tudo objetivando adequar a política educacional à cartilha de uma sigla partidária. Planos e mais planos educacionais, nova equipe, prática velha, onde prevalece o achismo, o revanchismo. Não são discretos em demonstrar estarem convencidos de que tudo que aí está não funciona! Estrutura física, equipe técnica, professores, programas educacionais, matrizes curriculares e muitos outros programas de governo, nada funciona como deveria ser, na ótica da atual gestão.
Há rumores de que pretendem extinguir o único programa educacional que apresenta resultados ao longo de duas décadas de implantação, o Sistema de Ensino Modular. Modalidade de ensino que já formou milhares de cidadãos por todo o Amapá. Por onde atua, o SOME oportuniza a geração de empregos e renda. Haveria por parte dos gestores da SEED a idéia de implantar o ensino à distância para os níveis fundamental e médio, em diversas comunidades do Amapá.
Sabe-se, no entanto, que em muitas comunidades em que o SOME atua não há se quer energia elétrica e, na maioria ão há rede elétrica adequada, seu funcionamento é sazonal, eis que falta com frequência óleo diesel para os geradores.
Após percorrer mais de 50 comunidades interioranas neste Estado, estou convencido de que a implantação do ensino à distância pode gerar, entre outros males da sociedade contemporânea, o desemprego de profissionais e quebra do sentido de existência da instituição escolar. A escola aos poucos perderá o sentido de sua existência! Bastará algumas salas em qualquer lugar (até mesmo em bares, pois até mesmo na Capital há escola funcionando nos altos de um bar!) para que os alunos assistam à teleconferência, alguns tutores online; não serão necessários serventes e merendeiras, transporte escolar; será sem dúvida um sistema de ensino econômico! Mas, é preciso lembrar que em educação não se economiza. É necessário fazer investimentos! Obviamente que os investimentos feitos na educação devem ser resultado de uma política de Estado e não tão-somente de governo. A política educacional deve ser discutida em audiência pública e tracejada em planejamentos estratégicos que contemple os atores nela envolvidos.
Não se fazer tábula rasa e acreditar que tudo que está aí não funciona. Mudanças são necessárias, mas com responsabilidade e a partir do enriquecimento da participação dos agentes educacionais e da própria sociedade.
Que papel estará reservado ao professor onde fica nesse processo educacional vislumbrado pelo atual governo? O professor é inegavelmente o grande responsável pela construção do conhecimento, seja na zona urbana ou rural. É responsável pela aplicabilidade dos projetos educacionais, ele precisa de respeito, dignidade, ser ouvido, de remuneração justa, as unidades escolares precisam de gestão democrática, ofertar cursos de formação continuada, plano de saúde a seus funcionários, ambientes saudáveis e harmoniosos. Sem a implementação dessas melhorias torna-se praticamente impossível construir uma educação de qualidade.
O futuro do país depende da educação, como diria a presidente do Brasil: “O professor é autoridade!”. Os jovens de hoje serão no futuro, os professores, empresários, políticos, juízes de direito, promotores, enfim, todos os profissionais do futuro são lapidados por um educador! Pena que a maioria da sociedade esquece que dignificá-lo como de direito.
Hoje é um dia para se refletir sobre as conquistas e mazelas que temos na educação. Vale lembrar o assédio moral que o professor vem sofrendo, violência física e moral nas escolas. Não devemos, no entanto, deixar de cobrar políticas sérias, grandes investimentos educacionais, como concluir as reformas de escolas que estão em fase de acabamento. Não faz mais sentido dizer que não tem dinheiro!
O Estado a cada mês bate recorde de arrecadação, além disso, o FUNDEB teve um aumento substancial. Basta comparar o primeiro trimestre de 2011, com o mesmo período do ano anterior, não precisa ser especialista financeiro para perceber o incremento que houve! Por tudo isso, reafirmamos a necessidade de o professor ser mais valorizado! Por que até agora não implementaram o piso salarial nacional?
Apesar de não ser um piso digno da responsabilidade que o educador carrega, mas é uma conquista nossa! Defendo que o professor deveria ter um salário igual, ou melhor, do que o dos juízes, dos promotores, dos psiquiatras, dos psicólogos clínicos, dos generais, a final de contas o trabalho do mestre é tão ou mais importante que o deles. De acordo com Augusto Cury, (2004): o professor trabalha com a emoção, afetividade, com a inteligência e prevenção. São os profissionais que mais contribuem para o bem estar da humanidade, no entanto, lamentavelmente, são os menos prestigiados sob qualquer ótica.
Neste contexto, os professores estão sempre semeando grandes sonhos, fortalecendo a construção de atitudes e valores morais e éticos desejáveis, levando educação às comunidades mais distantes do Estado, locais em que oportunizam o afloramento das aflições, das alegrias e dos sonhos dos cidadãos daquelas longínquas localidades. Os professores são verdadeiros guerreiros, envoltos a uma cruzada da educação!
Pelo exemplo de suas atitudes e postura profissional, muitos tornam-se ídolos de seus alunos, ajudando-os a romperem a cultura do silêncio e a não se conformarem com a ditadura dos fatos e assim ao longo de sua vida, os mestres contribuem com o desenvolvimento da personalidade de seus discentes.
Assistimos hoje a uma verdadeira avalanche de desconstrução de valores em nossa sociedade. Se nós, educadores, não nos posicionarmos e atuarmos firmemente na manutenção e construção dos valores socialmente desejáveis, então, precisaremos construir mais reformatórios, penitenciárias, hospitais, asilos, etc...Vale a pena pensar a respeito.

*Especialista em Docência do Ensino Superior, graduado em História pela UNIFAP, professor de História do Sistema de Organização Modular de Ensino/SOME, do Amapá

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