Sobre a reunião da coordenação do
SOME de Santarém com os professores
“O medroso”
O |
correu uma reunião dia 03 de outubro no pátio da Escola Estadual Alvaro Adolfo da Silveira, quando o coordenador do SOME/Santarém inquiriu aos professores quem estava ou quem iria aderir à greve que teve início no dia 26 de setembro de 2011. Como profissional do SOME, presente nessa reunião, gostaria de analisar os argumentos da coordenação e compartilhar com os colegas.
O coordenador disse que não fora procurado pelos professores para lhe informar quem teria aderido à greve. Ora, o trabalhador deve ser independente, deve participar das assembléias, assinar a freqüência das reuniões e prestar conta da greve de sua categoria ao sindicato e o sindicato ao patrão. Quem conhece história, geografia, sociologia e filosofia bem, sabem que em todas as greves da história da humanidade quem decide pela greve é a categoria grevista. Não representante de governo ou patrão com ameaças ao trabalhador. Sempre existiu, existe e existirá uma mesa de negociação composta por patrões e empregados em discussão para as melhorias da classe trabalhadora e de suas condições de trabalho.
Em nosso caso específico, essas negociações, com uma pauta que já incluía o PCCR, vinham sendo discutidas desde abril de 2011, quando o governo pediu um prazo para implantar o PCCR no pagamento de outubro, o que não cumpriu. Quem não sabia disso? Eu fiquei sabendo em junho e ainda tomei mais conhecimento com o texto “PCCR, democracia e legislação”, do Professor Jasson Iran da Cruz, publicado no “modular notícias”. Quem não leu? Pois é como eu entendo. Estávamos em estado de greve desde abril. Que significa estamos trabalhando na expectativa de entrarmos em greve caso o governo não cumpra seus compromissos negociados com o sindicato, o que veio a acontecer. Então meus amigos e colegas, com a greve deflagrada, mudam-se as instâncias de poder. O poder passa a emanar do povo, da categoria representada pelo sindicato e seus filiados. Não é recomendado que o trabalhador vá procurar patrão ou representante local de governo para não sofrer ameaças e coações. Quem não foi coagido? Primeiro porque representante local de governo não tem nenhum poder sobre as negociações entre patrões e trabalhadores. O que eles fazem, mas de forma ilegal é ameaçar, coagir e/ou prejudicar algum trabalhador. Mas o sindicato pode acionar a justiça para defender o trabalhador dos abusos de autoridade.
Outra fala coercitiva da coordenação foi que precisava saber “quais os professores que estavam de greve para planejar o 4º módulo”, deixando subentendido que “quem aderiu a greve não seria lotado para o 4º módulo”. O que é pior, quem procurou a coordenação isoladamente foi ameaçado de “não ter sua lotação garantida no 4º módulo”, confirmando o parágrafo anterior. Eu pergunto se o professor grevista não for lotado no 4º módulos não será pior para os alunos que irão ficar sem o professor por duas vezes? Isso é preocupação com o aluno? Onde? O discurso do governo local não é de “preocupação com o estudante”, para que ele “não fique sem aulas”? Porque não lotar o professor para ele retornara à sala de aula logo que acabe a greve? Isso é o que Michel Foucault chama de vigiar e punir. Por isso meus colegas, não era indicado voltar a escola e fechar o 3º módulo. Enquanto estávamos em greve lotados no 3º módulos tinhamos a garantia de uma comunidade para voltar. Fechar o 3º módulo para grevar no 4º? Me arrependo. Isso não deveria existir, é demagogia, é hipocrisia, é discurso vazio e mediocridade. Nossa como me arrependo de ter caído nessa malha. Com a ameaça de não ser lotado no 4º módulo, nenhum dos 35 professores que nos dissemos grevistas em potencial teremos condições de aderir à greve. Nós demos um tiro no pé. Não sei se consciente e ou inocentemente, o que é pior.
Eu não queria nem iria aderir à greve, mas o discurso da manipulação, da coação me indignou tanto que me senti uma pessoa ridicularizada na comunidade. Eu pensei como eu poderia ficar sendo mais uma pessoa manipulada por um discurso pobre. Geeeeente, principalmente quem “contribuiu” trabalhando dobrado como os temporários. Que também foram ameaçados de não terem os seus contratos renovados depois de seis meses. Isso é ridículo. O estado não precisa desse servidor? Que partido democrático é esse que coage o trabalhador? O sindicato tem que incluir na pauta de negociação a defesa dos temporários e nosso direito de reivindicar. Muitos de nós já trabalhamos o 4º módulo, espremidos, gastando mais que os outros, produzindo mais, como disseram alguns colegas no início do ano, “economizando para o estado que não nos valoriza”.
Eu gostaria de provocar uma reflexão sobre greve e educação. Como profissional da educação atuante e ciente da minha importância para uma sociedade justa, não considero que greve prejudica aluno. Na prática, eu e muitos aqui, éramos alunos da rede pública estadual na década de oitenta e noventa, quando outros colegas, aqui também já faziam greve e ajudaram em muito a melhorar a educação do estado do Pará com suas conquistas históricas. E olha que a média para passar era 8,0, em todas as disciplinas porque não tinha dependência. E como alunos, retornávamos às aulas e aqui estamos trabalhando na educação e ainda fazendo greve. Eu nunca me senti pessoa prejudicada e não conheço uma pessoa prejudicada na sua formação por causa de greve na educação. Mas conheço categorias inteiras na história da humanidade que ampliaram suas conquistas e melhoraram suas condições de trabalho. Quem trabalha com ciências humanas e suas tecnologias são pra saber disso. O que é pior para a educação do que uma média 5,0 e as dependências ou uma greve temporária que luta para melhorar a educação do estado? O que é pior para educação do que módulos espremidos com apenas 50% da carga horária? Uma greve? Não, a greve luta pela melhora da qualidade da educação.
Uma greve prejudica um partido político que está num governo e não aos alunos. Prejudica não, denuncia o mal partido, mal governo para a sociedade. É por isso que no governo anterior muitos de nossos colegas, que hoje são governistas fizeram greve de campanha eleitoral. Até a Marinete era grevista no ano passado. Muitos de nossos colegas fazem greve não pela causa da categoria, mas para promover seu partido e seu candidato na campanha eleitoral. Gente, governo é governo independente de partido político. Temos que avançar para uma identidade de classe. Professor é sempre considerado professor independente de governo e do partido que governa. Professor é eleitor e cabo eleitoral em ano eleição só isso. O resto tem que conquistar na luta, na greve, na reivindicação e na pancada.
Boa greve aos corajosos e bons resultados aos covardes e perseguidores!!!!!
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