Uma visão do I
Encontro do SOME Pará/Amapá
Por: Eládio Delfino Carneiro Neto
A chegada
Participantes do I Encontro do SOME Pará/Amapá chegam a Santarém |
A chegada dos educadores e educadoras na chácara do Marcos Massaranduba |
Educadores e educadoras do SOME AMAPÁ degustam o café da manhã |
Abrigados, felizes, os educadores do SOME participam do café da manhã coletivo |
O credenciamento
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a quinta-feira, 15 de novembro de 2012, por volta das 8 horas, já se notava a presença de diversos professores na entrada do auditório do IESPES, para a realização do credenciamento e recebimento do material (bolsas, folder, caneta, papel, textos), referentes ao I Encontro do SOME Pará/Amapá. Comandando o credenciamento o sindicalista Braulio Uchôa (Sintepp).
O sindicalista Braulio Uchôa realiza o credenciamento dos participantes |
O auditório do IESPES pronto para receber os participantes do encontro |
Educadores e educadoras fazem o credenciamento para o encontro
Protagonismo & Precarização
palestra “Os desafios do Ensino Modular frente às Demandas por Educação dos Sujeitos do Campo” ministrada pelo doutor Salomão Antônio Muffarej Hage (GEPERUAZ/ UFPA), foi a primeira atividade laboral do I Encontro do SOME Pará/Amapá. Através dela, o professor situcionalizou a Educação do Campo considerando duas vertentes: protagonismo e precarização (negação e violação de direitos).
Primeiramente Salomão Hage faz uma abordagem histórica da luta dos movimentos sociais, a partir da “Marcha das Margaridas”, que reuniu 100 mil mulheres trabalhadoras rurais de todo o país em Brasília, em agosto de 2011. Elas marcharam pelo reconhecimento das mulheres no desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade.
Ele falou também sobre o 18o Grito da Terra, que foi realizado no dia 30 de maio de 2012, em Brasília, quando os trabalhadores do campo sob a coordenação da CONTAG, que reúne 20 milhões de trabalhadores rurais, 27 Federações de trabalhadores na agricultura e mais de 4 mil sindicatos de trabalhadores rurais, manifestaram sua postura a favor de um desenvolvimento rural sustentável e solidário. Na pauta do movimento questões como: políticas agrícolas, reforma agrária, questões salariais e políticas sociais.
Salomão discorreu também sobre os 10 mil trabalhadores, povos do campo, das águas e da floresta, que marcharam em Brasília, no dia 22 de agosto de 2012, por terra, território e dignidade e pela Educação do Campo, Indígena e Quilombola. O movimento pede a efetivação do Programa Nacional de Educação no Campo – Pronacampo, que foi lançado pela presidenta Dilma Rousseff em 20 de Março de 2012.
O Pronacampo prevê apoio técnico e financeiro aos Estados, Municípios e Distrito Federal, para a implementação da política de educação do campo, conforme Decreto n° 7.352/2010 e ações voltadas para o fortalecimento e a melhoria do ensino nas redes existentes e ampliação de acesso a educação para as populações do campo.
O professor doutor Salomão Hage, usou de estatísticas para mostrar as desigualdades nas matrículas no campo para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os dados dizem que, para cada seis vagas nos anos finais do Ensino Fundamental existe apenas uma vaga no Ensino Médio. No estado do Pará, grande parte dos jovens do campo estuda no Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME).
Sobre o nome da Proposta – Para Salomão Hage, modular é uma palavra que implica em ações estanques - se esgota na duração dos módulos e não estimula a interdisciplinaridade, a interação entre os docentes, a transversalidade dos conhecimentos. Além disso, ele diz que modular dá a ideia de que o curso não é regular, pela rotatividade dos docentes e pela organização dos módulos, porém, os estudantes têm aulas regularmente, o curso é contínuo e, portanto, regular.
O nome modular também não estimula a integração com a Educação Profissional e nem reflete as boas práticas que estudantes e docentes realizam, mesmo nas condições adversas que enfrentam em determinadas localidades.
Ele advoga também que é preciso ouvir os sujeitos: professores, estudantes, gestores, pais e integrantes das comunidades onde as turmas funcionam, para identificar as maneiras como que eles se reconhecem, considerando seu pertencimento às diversas territorialidades existentes na Amazônia Paraense.
Concluindo, Salomão orienta que o nome da proposta implica na construção coletiva de sua identidade, pois as populações do campo desenvolvem suas atividades produtivas de forma coletivizada, envolvendo todos os membros da família, seja na agricultura, na pesca, no extrativismo, etc, sendo esse, portanto um aspecto fundamental de sua constituição identitária, que traz implicações diretas para o processo de escolarização.
Visitação – Para o palestrante a visita e o acompanhamento às turmas são fundamentais, pois as escolas do campo no Pará encontram-se em comunidades, vilas, distritos ou polos localizados a uma certa distância das sedes dos municípios e as vias de acesso e os meios de transporte são muito precários. Além disso o número restrito de profissionais e de viaturas da SEMEC dificultam o acompanhamento às escolas, às turmas e aos docentes.
Sem a visita in lócus e o acompanhamento do processo educativo que se desenvolve nas turmas, se torna difícil garantir a efetividade da proposta.
Formação – Outro ponto abordado pelo professor Salomão Hage foi sobre a formação contínua e valorização dos educadores, gestores e servidores, para afirmar a proposta pedagógica e planejar as atividades curriculares e de inovação a serem implementadas no campo. De acordo com estatísticas do INEP/2011, o campo tem um total de 342.845 professores. Destes 160.317 não tem educação superior. Com ensino médio são 156.190 e com o Ensino Fundamental são 4.127.
Operacionalidade – Com relação a referências operacionais para o funcionamento das turmas, Salomão Hage, diz que os estudantes e professores precisam sentir orgulho de estudar e trabalhar no meio rural e para isso se faz necessário atender a um conjunto de requisitos básicos que configure um ensino de qualidade, com ambiente pedagógico acolhedor, estimulante, prazeroso e propiciador da aprendizagem. Para isso pede a melhoria da infraestrutura das turmas, na lotação dos docentes, no deslocamento e acomodação dos estudantes e professores, na alimentação e recursos pedagógicos.
Currículo – Salomão também enfatiza uma reorientação da proposta pedagógica e curricular, que fortaleça a relação dialógica entre os saberes da tradição e os conhecimentos científicos e tecnológicos existentes. A proposta deve ser construída coletivamente, com a participação dos diversos sujeitos que o integram, estimulando o protagonismo, o empoderamento e a emancipação dos mesmos.
Além disso, a proposta deve afirmar a interculturalidade que constitui os seus integrantes, a fim de fortalecer o pertencimento dos mesmos a sua comunidade local e à Amazônia paraense.
Para encerrar ele diz que a nova proposta pedagógica e curricular deve incorporar os avanços acumulados das experiências implementadas pelos movimentos sociais, organizações não governamentais ou poder público em suas várias esferas, como: Pedagogia da Alternância, EJA integrado à educação Profissional (currículo integrado), ciclos de formação, que têm confrontado com a seriação e sua hegemonia em termos de organização de ensino.
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