segunda-feira, 7 de novembro de 2011

GREVE 2011

In(Justiça) provoca continuidade da greve II
Os trabalhadores em Educação da rede estadual de ensino em Santarém decidem pela continuidade da greve (foto: Eládio Neto)

Aconteceu, na tardezinha da segunda, sete de novembro, assembleia geral da subsede do SINTEPP de Santarém.

Como pauta, o entendimento da decisão judicial que decretou o fim da greve e suas implicâncias para a categoria e a consulta a assembléia sobre os rumos do movimento, ou seja, se acataria ou não a decisão do juiz Elder Lisboa.

Nas falas proferidas por colegas, todos eram unânimes em conclamar os trabalhadores em educação pública do estado do Pará a continuar firmes na greve, como um meio de lutar por direitos garantidos pela lei 11.738/2008 (a lei do piso) e reafirmados pelo STF - Supremo Tribunal Federal.

Fala importante foi a proferida pelo advogado Gleidson, acessor jurídico da regional oeste. Segundo ele, são os advogados de Belém que estão a frente do caso, uma vez que a decisão judicial que criminalizou o SINTEPP partiu da comarca de Belém. Porém, o advogado garantiu que o SINTEPP já está recorrendo, primeiro para pedir embargos de declaração, uma vez que há muitos pontos confusos no despacho do juiz Helder Lisboa. Gleidson garantiu que há prazos para isso e também para o juiz responder o embargo de declaração a fim de esclarecer esses pontos obscuros.

Um dos pontos que mais é temerário para os servidores são as ameaças de punições, dentre elas corte de ponto e processos administrativos, o advogado garantiu que tais medidas só poderão ser tomadas pelo governo somente quando passar pela últims instancia, ou seja, aquela mesma que garante o piso salarial nacional, o pccr e a hora atividade de 1/3 do total.

Gleidson também afirmou que esta greve é histórica, pois, através dela, os servidores em educação estão exigindo o cumprimento de uma lei, que o governo se nega a cumprir. Neste viés, o advogado comentou a gravidade da decisão judicial, uma vez que contribui para o não cumprimento de uma decisão da Suprema Corte.

A lei 11.738, então, é a força que movimenta esta greve.

Isabel Sales, membro da coordenação, afirmou que Santarém é referência para a região Oeste e que por isso é preciso a união e a coragem de todos neste momento tão importante de luta.

Chegou então o momento da assembléia votar pela continuidade ou não da greve e o coordenador do SINTEPP-Santarém, Noel Sanches, pediu a todos que conscientemente levantassem a mão no momento do voto. E UNÂNIMES TODOS DECIDIRAM PELA CONTINUIDADE DO MOVIMENTO e gritavam "a greve continua, Jatene, a culpa é tua!"

Frases impactantes:

"O nosso país tá tão ruim que é preciso fazer greve para garantir que leis sejam cumpridas" (Márcio Pinto)

"Não é papel do judiciário dizer o que o governo tem que fazer. Seu papel é de zelar pelo cumprimento das leis." (Márcio Pinto)

"20 mil servidores em greve: como instalar processo administrativo para tanta gente?" (Márcio Pinto)

"Esse magistrado é maugistrado. Somos nós que definimos os rumos deste estado." (Alex).

"violência, censura, ditadura" (Diogenes). Cantou que a greve tem que continuar.

"Só os covardes não lutam. Só os cães amedrontados fogem" (Noel Sanches)

"A lua continua, Jatene, a culpa é tua" todos gritavam.

AGENDA


Ato público no Fórum - lavar a Justiça paraense

08/11 (terça) - às 8h30 concentração na sede do SINTEPP-Santarém e de lá até o fórum.

Reunião do Comando de greve

08/11 (terça) - às 16h na escola Onésima Pereira de Barros
Ato na praça da Nova República - caminhada e panfletagem

09/11 (qurta) - às 16h concentração na praça da Nova República.

Caminhada e panfletagem no centro

10/11 (quinta) - às 9h concentração na Garapeira Ipiranga.

"Grevefestival" - noite cultural na Orla da cidade

11/11 (sexta) - às 19h concentração na Praça do Pescador.



Durante a assembleia foi aberto espaço para que os trabalhadores presentes se manifestassem num tempo de três minutos, para cada inscrito. O primeiro a se manifestar foi o professor Aroldo Eduardo Athias Rodrigues, que pronunciou o seguinte discurso.
O Poder da Convicção
Professor Haroldo pronuncia seu discurso
B
oa noite senhoras e senhores. Gostaria de começar este texto com algumas perguntas: Qual dentre nós sabe quando ou do que forma morrerá? Qual dentre nós pode afirmar com toda certeza que estará vivo no próximo segundo? O que haverá depois que a vida do corpo se esvai? Quem, dentre nós, pode responder, com toda certeza, a uma só destas perguntas? A vida é tão breve, mas que sentido ela tem? Qual a lógica que governa a vida? Vemos todos os dias, pessoas que, por não encontrarem sentido para suas vidas, acabam por abreviá-las, consciente ou inconscientemente? Quantas crianças privadas de tudo, privadas de tudo material e emocionalmente, não buscam os caminhos das drogas e do crime, morrendo de overdose ou num assalto a mão armada? Quantos não puxaram o gatilho de uma arma apontada para a própria cabeça.
O que, contudo, faz com que tantos outros, mesmo padecendo das maiores dificuldades, dos maiores sofrimentos, desejam ainda estar vivos?
A vida, meus caros, só é possível de ser vivida quando a ela atribuímos algum significado. Gostaria contudo de advertí-los do perigo de colocar esse significado nas coisas matérias, pois tudo que é material, vem do pó e ao pó retornará. Somos só usufrutuários dos bens matérias, nada, nem nossos corpos nos pertencem. As verdadeiras coisas de valor são invisíveis. Não digo que os bens matérias não sejam importantes, afinal, nenhum de nós pode viver sem eles, e ninguém pode gozar de uma felicidade plena vendo faltar o que é necessário para ter condições dignas de sobrevivência, vendo escassear o alimento na mesa de seus filhos. Contudo, o perigo reside em atribuir mais valor as coisas do que elas realmente têm. Os bens matérias estão ai para nos servir, e não o contrário. Estamos todos ligados uns aos outros, e o sorriso do rosto do meu irmão implica no meu próprio sorriso.
O mais interessante diante de tudo o que foi dito é justamente o fato de que todas essas convicções só ganham sentido se forem aplicadas às nossas ações do dia-a-dia. Por isso, a natureza e a força das convicções de cada um nesta assembleia exerceram um forte reflexo sobre a vida de todos. Reflexo este que irá muito além do valor que aparecerá em nossos contracheques  ao final da greve. Irá abalar nossa fé sobre a possibilidade de transformar o mundo. Pois se o conjunto de todos os servidores da educação do Pará, que pressupomos ser uma classe altamente esclarecida, massa crítica, for incapaz de fazer cumprir aquilo que é determinado por lei, pelos caprichos de um juiz e de um governador descompromissados com a Justiça, quem poderá dizer perante uma classe cheia de alunos que um mundo melhor é possível?
Somente nossas convicções serão capazes de nos manter firmes quando, pelo corte do ponto, vemos nossa vida financeira ameaçada e as dívidas se acumulando. Somente nossas convicções  nos tornarão imunes às ameaças de sofrer processo administrativo, pois é a fé que nos faz superar o medo. Precisamos ter fé para sairmos dessa luta vitoriosos, precisamos levar essa luta até as últimas consequências, pois nossos alunos, tenham certeza disso, preferirão nos reencontrar daqui a seis meses dizendo, nós conseguimos, do que amanhã dizendo, fizemos o possível. No primeiro caso retornaremos com a força do exemplo (a mudança é possível quando nos unimos e temos fé), no segundo caso traremos conosco apenas mais um discurso. Lembremo-nos de que muitas coisas são impossíveis, até que alguém faça o impossível acontecer. Provaremos ao governo que a voz de muitos cantando em uníssono é mais alta que as ordens e os desmandos de um homem vil, pois é a luta por aquilo que é verdadeiro e justo, que faz com que os homens sejam capazes de remover montanhas. Foi por convicção que os cristãos sustentaram sua fé enquanto eram devorados por feras nos circos romanos. Não podemos nos deixar abalar por muito menos. Não podemos permitir que nossas leis  tornem-se  lixo e um novo AI 5 seja estabelecido em um regime que se diz democrático.
Se nossa causa não fosse justa, o que justificaria as greves de outros companheiros da educação no ano de 2011 e, pelas mesmas razões que nós, nos estados do Rio Grande do Sul (indicativo de greve), do Tocantins (7 dias de greve), do Piauí (18 dias de greve), da Paraíba (32 dias de greve), do Amapá (34 dias de greve), do Espírito Santo (50 dias de greve), de Santa Catarina (62 dias de greve), do Ceará (63 dias de greve), do Rio de Janeiro (66 dias de greve), do Maranhão (78 dias de greve), do Rio Grande do Norte (80 dias de greve) e de Minas Gerais (112 dias de greve). Isto, sem mencionar as greves nos municípios, dos institutos federais e de técnicos administrativos de universidades.
Portanto, lutemos por nossos direitos, lutemos pela justiça usando os ensinamentos do próprio Jesus Cristo, pois enquanto:
Um juiz determinou o corte do ponto dos servidores em greve.
O juiz determinou: “Observai os pássaros do céu: eles não semeiam e não colhem, e não amontoam nada, mas vosso Pai celestial os alimenta; não sois muito mais do que eles? Por isso, não estejais inquietos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu mal.”
Um juiz determinou que fosse instaurado processo administrativo sobre os servidores que insistissem em permanecer em greve.
O juiz determinou: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque o reino dos céus é para eles.”
Um juiz determinou que esta greve é ilegal.
O juiz determinou: “Não penseis que eu vim destruir a lei ou os profetas; eu não vim destruí-los, mas dar-lhes cumprimento.”
De agora em diante cada consciência falará por si mesma, mas lembremos do ensinamento do grande educador Paulo Freire: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.”
Se silenciarmos, a vontade dos maus prevalecerá. Se permanecermos fortes e unidos, faremos aquilo que nenhum homem é capaz de fazer sozinho. Transformaremos o mundo.
Por vossa paciência muito obrigado!

Nenhum comentário: